amor desta tarde que arrefeceu

foto: Daniela Silva – 12º A (2022-23)

poema: “Soneto”, de Eugénio de Andrade

SONETO

Amor desta tarde que arrefeceu
as mãos e os olhos que te dei;
amor exato, vivo, desenhado
a fogo, onde eu próprio me queimei;

amor que me destrói e destruiu
a fria arquitetura desta tarde
– só a ti canto, que nem eu já sei
outra forma de ser e de encontrar-me.

Só a ti canto que não há razão
para que o frio que me queima os olhos
me trespasse e me suba ao coração;

só a ti canto, que não há desastre
de onde não possa ainda erguer-me
para encontrar de novo a tua face.

Eugénio de Andrade (1923-2005)

biobibliografia

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