leitura: Mariana Grenha – 12º A (2022-23)
texto: “Ravel”, da Deutsche Grammophon
“Maurice Ravel é um dos compositores mais estanques da história da música, no sentido de que, enquanto muitos dos seus colegas veem as suas obras como uma forma de expressão pessoal, ele fugiu disso e nunca mostrou nada de si mesmo nas suas partituras. Pelo contrário: escondeu os seus sentimentos e inquietações por de detrás de uma máscara de perfeição técnica. Partindo de um conceito romântico da arte, Ravel perfila-se como um compositor inexpressivo e vazio. Mas acontece que ele não via a música assim. Cultivava-a antes com os olhos de um Stravinsky quando dizia que “a música não deve expressar nada que não seja ela própria”, não necessita de mais nada, para ser válida, do que a sua perfeição formal e técnica. E, menos do que nada, sentimentos. Segundo esta óptica, as obras de Ravel são perfeitas. Para o músico francês, a música, a arte em geral, não estava no mesmo plano que a vida quotidiana, sendo que se circunscrevia aos limites de um recinto mágico e fictício, e daí a sua predileção pelos ambientes exóticos, míticos, feéricos ou demoníacos que a sua obra apresenta. Em poucas palavras, pelos cenários artificiais, dado que, para Ravel, a arte não é mais do que um sofisticado artifício. Isso explica o seu amor pelos objectos mecânicos e que ele próprio se considerasse mais um artesão que um artista. Segundo esta ideia, a música reduz-se a uma brincadeira requintada e que deve ser evitada qualquer tentativa de especulação filosófica ou emocional. Há uma coisa que é indubitável: Ravel foi o compositor que melhor soube expressar, na sua obra, as constantes que dominam o chamado espírito francês, desde o Renascimento até hoje em dia, a saber, a discrição e a sensualidade, o rigor e a ternura, o gosto pela descrição e o colorido instrumental, a combinação de tradição e modernidade… In: Grande Selecção Deutsche Grammophon
Maurice Ravel (1875-1937)