
foto: Leonardo Ramos – 11ºB (2022-23)
poema: “No deserto dessa hora”, de Ronaldo Cagiano
No deserto dessa hora O deserto é minha casa. Ondjaki Noites e dias tatuados nas paredes da casa constroem mapas do vazio com a caligrafia de sombras e segredos E o tempo com suas erosões e armadilhas, esse rio-distúrbio assoreando as idades, mostra-me as margens com sedimentos do inacontecido. Vou ao quintal inundado de ausências e nas reentrâncias de um muro caduco o passado é o único animal que se mantém vivo. Os olhos como uma bússola insana apontam para jardins exaustos onde, inútil e cansado, tento exumar meus cadáveres, insanos sonhos da infância. Esse caudal pródigo de desafetos, agora metamorfoseado em afluente de dejetos emocionais, cataloga silêncios e velórios.
Ronaldo Cagiano (1961- )
Arsenal de vertigens, 12catorzebold, Edições Húmus