leitura: Ana Beatriz Faria – 12ºA (2022-23)
texto: “Os seis pintainhos”, de António Torrado
Os seis pintainhos
Era uma vez seis pintainhos. Seis pintainhos iguais. Seis pintainhos na capoeira.
Um dia, passou por ali um jornalista. Andava sem notícias, sem novidades, sem acontecimentos, sem nada para contar. Andava muito aborrecido.
E, como não tinha nada que fazer, resolveu entrevistar os seis pintainhos da capoeira.
– Oiçam lá, o que querem vocês ser, quando torem grandes?
Um por um, os pintainhos responderam.
O primeiro queria ser galo de Barcelos, na prateleira de uma loja.
O segundo queria ser galo de ferro, no cimo de um campanário.
O terceiro queria ser galo de vidro, na cómoda de um salão.
O quarto queria ser galo de prata, na montra de uma ourivesaria.
O quinto queria ser galo de pano, na almofada de um sofá.
O sexto… o sexto respondeu que depois, mais tarde, quando crescesse, logo se via.
Pois sabem o que realmente aconteceu?
O que foi para galo de Barcelos, na prateleira de uma loja, veio um turista e levou-o.
O que foi para galo de ferro, no cimo de um campanário, veio a chuva e enferrujou-o.
O que foi para galo de vidro, na cómoda de um salão, veio o vento e partiu-o.
O que foi para galo de prata na montra de uma ourivesaria, veio um ladrão e roubou-o.
O que foi para galo de pano, na almofada de um sofá, veio um gato e rompeu-o.
O que respondeu que depois se via, depois se falava, não foi para galo. Foi para galinha.
António Torrado (1939-2021)