
foto: Pedro Silva – 6ºF (2022-23)
poema: ” Canto Nono”, de Tonino Guerra
CANTO NONO Terá chovido durante cem dias e a água infiltrada pelas raízes das ervas chegou à biblioteca banhando as palavras santas guardadas no convento. Quando tornou o bom tempo, Sajat-Novà o frade mais jovem levou os livros todos por uma escada até ao telhado e abriu-os ao sol para que o ar quente enxugasse o papel molhado. Um mês de boa estação passou e o frade de joelhos no claustro esperava dos livros um sinal de vida. Uma manhã finalmente as páginas começaram a ondular ligeiras no sopro do vento parecia que tinha chegado um enxame aos telhados e ele chorava porque os livros falavam.
Tonino Guerra (1920-2012)
Um pensamento sobre “porque os livros falavam”