
foto: Rodrigo Campos – 7º A (2022-23)
poema: “O sapo”, de Juan José Arreola (trad. Jorge Sousa Braga)
O SAPO Salta de vez em quando, só para comprovar que é essencialmente imóvel. O salto tem algo de palpitação: vendo bem, o sapo é todo coração. Pensando num bloco de lodo frio, o sapo submerge-se no inverno como uma crisálida lamentável. Acorda na primavera, consciente de que nenhuma metamorfose se operou nele. É mais sapo que nunca, apesar da sua profunda dessecação. E um belo dia surge da terra branda, pesado de humidade, cheio de seiva rancorosa, como um coração atirado ao chão. Na sua atitude de esfinge, há uma secreta proposição de troca, e a fealdade do sapo aparece ante nós com uma angustiante qualidade de espelho.
Juan José Arreola (1918-2001)
(trad. Jorge Sousa Braga)