
foto: Ana Beatriz Araújo – 10º ano (2021-22)
poema: “Tragédia”, de Manuel da Fonseca
Tragédia Foi para a escola e aprendeu a ler e as quatro operações, de cor e salteado. Era um menino triste: nunca brincou no largo. Depois, foi para a loja e pôs a uso aquilo que aprendeu — vagaroso e sério, sem um engano, sem um sorriso. Depois, o pai morreu como estava previsto. E o Senhor António (tão novinho e já era «o Senhor António»!...) ficou dono da loja e chefe da família... Envelheceu, casou, teve meninos, tudo como quem soma ou faz multiplicação!... E quando o mais velhinho já sabia contar, ler, escrever, o Senhor António deu balanço à vida: tinha setenta anos, um nome respeitado... — que mais podia querer? Por isso, num meio-dia de Verão, sentiu-se mal. Decentemente abriu os braços e disse: — Vou morrer. E morreu!, morreu de congestão...
Manuel da Fonseca (1911-1993)