nenhum pássaro

foto: Filipa Ferreira – 9º ano (2021-22)

poema: “À minha porta senta-se outra vez”, de Eugénio de Andrade

À minha porta senta-se outra vez
o Inverno. Traz consigo
o mar. Está velho
e magro o mar, negro de crude.
Também traz árvores; cegas
e sem nenhum pássaro:
mesmo sem vento cambaleiam.
Tenho dó das suas folhas
de borco na rua,
a respiração difícil.
Quem virá, injuriando o tempo,
sacudindo as grossas
gotas de frio?
Só um sorriso aceso
lhe aqueceria as mãos; do coração
não falo: não há lume
que o torne enxuto e novo.

Eugénio de Andrade (1923-2005)

biobibliografia

4 pensamentos sobre “nenhum pássaro

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