leitura: Catarina Cardoso – 9º ano (2021-22)
texto: “A curiosidade”, de Ramalho Ortigão
A CURIOSIDADE
A curiosidade é a primeira das grandes forças do espírito humano. Foi considerando curiosamente a costrução duma teia-de-aranha que se inventaram as pontes pênseis. A curiosidade de achar a causa da queda de uma maçã e a causa do aspeto de uma bola de sabão levaram dois homens à descoberta de leis que explicam aspetos importantes da nossa vida. Examinando o organismo de uma rã, um cientista notou que a pata desse animal se contraía quando se lhe tocava com lâminas de metal. Daí, a telegrafia elétrica. Diante de um copo de cerveja, um homem sente um dia a curiosidade de explicar o fenómeno da fermentação. Outro, passeando uma tarde à beira-mar, encontra um animal dado à costa; observa-o com curiosidade e daí nasce um grande livro. Espreitar pelo buraco da fechadura e dobrar o Cabo da Boa Esperança são dois atos de curiosidade: um revela má-criação; o outro abre o caminho para a Índia. A um dá-lhe a curiosidade para mexer nas gavetas dos outros: é o indiscreto. Igual curiosidade leva outro a percorrer a África: este pode ser um grande explorador. Que se deve então fazer à curiosidade para que ela não seja um ridículo defeito, mas sim uma nobre e preciosa virtude? Dar-lhe por objeto os segredos da Natureza; dar-lhe como fim os interesses da Humanidade.
Ramalho Ortigão (1836-1915)