leitura: Diana Pereira – 11º ano (2021-22)
poema: “Para além de Pitágoras”, de Nuno Júdice
Para Além de Pitágoras
Quando wang zhenyi olhava para o céu,
com espelhos e globos de cristal na mão,
procurava um paralelo entre os círculos
estelares e as formas que fazia rodar
para que a entendessem. O céu, porém,
não descia à terra senão quando ela,
completando a sua teoria dos celestes
movimentos, compunha um poema. Não
sei se alguma vez lhe tinham falado
de Pitágoras, e de como ele conciliara
a música e o teorema ao pensar
na dimensão do universo; mas terá
chegado à mesma conclusão que
o filósofo grego ao descobrir que,
na forma como os equinócios
funcionam, se pode ouvir a música
da terra na sua rotação, fazendo girar
as estações, como ela rodava com a mão
os globos de cristal do universo. E
se ele tivesse argumentado contra ela,
numa esquina das estrelas para onde
olhavam, ter-lhe-ia dado uma boa resposta:
“As mulheres são as mesmas que
os homens, você não está convencido?”
Nuno Júdice
(dedicado a Branca Edmée Marques)
E Contudo, Elas Movem-se – Mulheres e Ciência
Coleção Fora de Série
Nuno Júdice (1949- )